sábado, março 21, 2009

MUNCH- Morte no Remo-1893



ADAMANTINO


Você sempre

estraga tudo,

apodrece meu universo...

Em suas gavetas:

coquetel molotov,

picas de sexshop

que não sentem prazer,

óculos de grau forte,

e um pente de 45

para varrer o mundo

míope.

Na sua ótica,

notas de escândalos

são estrondos orgásticos.

Dirijo-me ao seu hipnotismo

pela diagonal

e bloqueio o trânsito

lançando pétalas

aleatórias.

Candeeiros acesos,

vaga lumes piscando,

tudo em sua volta brilha,

mas minhas fechaduras

permanecem trancadas,

sorrio desconfiado,

quando me desejas

- Boa-noite.

Percebo pelo tom da sua voz

que não foi um desejo legítimo,

você sempre estraga...


Luciano Fraga

25 comentários:

Braga e Poesia disse...

a marca de luciano fincada no poema, como ...varrer o mundo miope.
Na sua ótica...
um poeema que não deixa duvidas quanto ao mundo do autor.
eu diria que o poeta luciano fraga ao escrever poesias começa a soltar pistas para o leitor descobri tanto o poeta quanto o mundo deste poeta.

Adriana Godoy disse...

Luciano, li várias vezes e me emocionei em todas. "Você sempre

estraga tudo,

apodrece meu universo...

ao contrário de você, que só encanta o meu. Lindo mesmo. Beijo.

Cosmunicando disse...

é o dom de colocar em versos uma relação em conflito, sem panos quentes. beleza de construção =)
abraço

Ruela disse...

Muito bom e a tela é fantástica.


Abraço.

Luciano Fraga disse...

Adriana, o encantamento é total e recíproco, muito obrigado, grande abraço.

Luciano Fraga disse...

Ruela,adoro o estilo Munch, é genial!Grande abraço.

Luciano Fraga disse...

Cosmunicando, isto,a verdade crua,obrigado, abraço.

Luciano Fraga disse...

Braga, este é o nosso mundo "tresloucado",zarolho e os cegos atirando a ermo,grande abraço.

bat_thrash disse...

Isso é um crônica do mundo contemporâneo em poema. Lembrei-me de uma frase de Sartre:o inferno são os outros.
Sempre haverá quem apodreça o universo com coquetéis molotov e pentes de 45.
Está tudo fantástico: imagem, poema!
Orgulho-me de ti!

Beijos.

Luciano Fraga disse...

Bat_,bem que tudo poderia ser muito melhor,mas alguns estragam. Prazer enorme desfrutar de sua amizade e do balanço de suas opiniões, beijo.

Devir disse...

Riso virtual, típico de chat
kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
chapei mas não entrei em choque
porque sou um raro compaixonista
daquele que questiona tudo tudo
na finalidade única da esperança
então digo que Sartre foi sacana
preguiçoso e um adamantino +foda

Se o inferno são todos menos eu
opa, que legal, vou foder tudo!!!!

Aquele abraço

Ana Beatriz Frusca disse...

Essa frase de Sarte é o ponto alto da peça Entre Quatro Paredes e gira em torno de 3 personagens que estão confinados em um quarto fechado e funcionam como espelhos uns dos outros a todo momento. O Inferno são os outros, na verdade é a constatação de quese dependemos unicamente dos julgamentos e das ações dos outros, abdicando de nossa liberdade essencial e intransferível, criamos nosso próprio inferno, queimamos na fornalha alimentada por nossos próprios medos, pela má-fé, pela incapacidade de autonomia. Os outros não são necessariamente os causadores do meu sofrimento. Eu mesmo faço do outro o carrasco de minha tortura. Em segundo lugar, a situação exposta na peça refere-se a pessoas mortas, a existências para sempre definidas e que se tornaram, desse modo, definitivas, imutáveis, fixas, congeladas como a estátua de bronze. Denuncia, portanto, aqueles que, ao negarem sua liberdade, preferem morrer em vida, como se pudessem coagular o sangue da existência. Estão mortos-vivos, penando no inferno ainda vivos. Para muitos, não é preciso morrer e muito menos sofrer a tortura dantesca para descer ao inferno...
Portanto, na concepção existencialista o inferno é simbólico: somos homens e nossa condição humana é a liberdade. Negar tal fato é condenar-se voluntariamente ao inferno, sem haver o deus da absolvição e o demônio da tentação e da culpa. Em suma, não há desculpas, não há tábua da salvação.
Eu suma, Bat citou esta frase incidentalmente, pois há um quê existencialista no sofrimento do eu lírico quando se depara com apodrecimento de seu mundo através do outro.
Enfim, o comentário acima foi desrespeitoso com o blogue, com o Sarte e com a Bat.

Beijo, Luciano.

Ana Beatriz Frusca disse...

Bat escreveu um bom poema depois de muito tempo e fez-te uma dedicatória logo no primeiro comentário.

Beijo gordo.****

Devir disse...

Caramba, se há, de fato, desrespeito com a Bat, meu Deus,
perdão, não sabemos o que fazemos.

Perdão tambem Bat, apesar que não havia exatamente foco crítico sobre o seu comentário.

E voce Biazinha, tão bela e livre,
por favor, releia novamente o meu comentário. Quem sabe perceba, entre imagens dantescas, o mundo real, que não é exclusivo de ninguem.

Braga, sensacional essa evolução.

E que pintura tão íntima ainda deste Tempo!!!!!

Aquele abraço, tambem nas meninas

Luciano Fraga disse...

Caro Devir,a poesia tem mesmo este papel(polemizar), não acredito em poesia ou literatura de consenso, fiquei meio sem entender o que te provocou o riso(kkkk...).Bat_ captou perfeito o fundo existencial do texto.Acredito no inferno(simbólico,claro) mental, oriundo de nossas próprias aflições.Cada um projeta,constrói, ornamenta, decora seu inferno.Por outro lado Sartre afirma:" todo homem é condenado à liberdade...".Vejo que se esta for utilizada de forma inadequada, futilmente(tipo: vou botar para fuder), servirá apenas como mais um utensílio para enfeitar nosso próprio inferno interior, sairá um tiro no pé, ninguém é vítima de nada.Tá tudo certo, discussões são saudáveis, grande abraço.

O Neto do Herculano disse...

Muito me agradou o teu "Vaga lumes", um alento numa noite em Santo Amaro e numa manhã modorrenta rumo a Salvador.

Luciano Fraga disse...

Caro poeta Herculano, fico muito feliz com seu comentário, também assistir ou melhor fiz a releitura várias vezes do seu Cinema, grande abraço.

Devir disse...

Luciano, foi perfeito e
se entendi, após a condenação
criamos nosso inferno, mas daí
vem o Cara e diz: "são os outros"

Assim estaremos no céu! Bacana

No céu encontro então muitos VOCE:
pessoas que podemos tratar assim e
assim conjugamos o verbo conviver

E o resto, no mínimo
vai para o inferno da indiferença,
bem distante "simbolico, é claro"
daquela conjugação ENTRE NÓS

O riso sonoricamente irônico
é porque, além de tão bela poesia
demonstrar o medo masculino original, tambem uma
original demonstração
do mito do eterno retorno
a melhor e única vez que podíamos
estar separado de verdade
e de verdade
condenados à Liberdade

Aquele abraço

Anônimo disse...

é desabafo confessional.
sincero toda vida.

maravilha!

Luciano Fraga disse...

Caro Devir,que beleza de comentário, muito inteligente mesmo as suas colocações,apenas acho que não existe condenação desde quando nós criamos, aquele abraço.

Luciano Fraga disse...

Camila, sinceridade existencial.

Rounds disse...

d. luchiano em plena forma.

do caralho!

"você sempre estraga... "

conheço uns seres assim...

rsrsrs

abs

Zana Sampaio disse...

Forte como um diamante, dificil de botar no papel...mas eu continuo "dirigindo-me ao seu hipnotismo pela diagonal" sendo assim mesmo presa de teus versos...lindo, muito lindo teu poema!

Luciano Fraga disse...

Buenas, sempre encontramos com umas figuras assim, "desmancha prazer",é assim a vida, abraço.

Luciano Fraga disse...

Zana,gostei do diamante, eles cortam vidros, obrigado, abraço.