Sem destinatário, data e local, em qualquer tempo.
Fotografia-Márcio Carneiro.
Cada detalhe é uma miragem, cada idéia é um temor...Rebusco cada passagem e reflexo, cada minúcia e palavra. Cada minuto de impotência vêm recheado de palavras.Imagino tudo que brota e tudo se torna receio. Vou ao espelho, consulto cada fio de cabelo, cada ausência de mim, altero falas, tons, cada fragmento de ímpeto destroçado.Vou montando o quebra-cabeças como um álbum de fotografias, uma árvore
genealógica, sem conhecer o
grau de parentesco. E eu um sujeito muito perigoso, de uma cegueira quase
insaciável, arregalo os olhos, observo os desejos, deixo-os, que sigam
fluindo, como um certo rio que jamais encontrará o seu mar.Estes desejos
pedem sal, mas quero que apodreçam entre silêncios, que jamais
tornem-se uma carta maldita que perambula por gerações e gerações,
indecifrada. Alguns ritos são premeditados, mas singular é a minha saída
pelos fundos, angelicalmente, transformando cada fracasso em sílabas de
anseio para confecionar palavras para aquela carta que alucina. Meus
dons tateiam, fico confinado em exageros, como um natimorto, perambulo
em íngremes incertezas, no limite da ação... O que realmente mudou de
lugar? O que nos separa da mentira?
Luciano Fraga
4 comentários:
Quase nada nos separa da mentira.
Caro amigo Herculano, recebi um presente do amigo Marluí(sempre generoso), seu novo livro, já estou relendo, gostei muito, em todos os sentidos, confecção, acabamento estético, conteúdo(lógico), vou mandar pra você autografar.Escrevi este texto, livremente inspirado em seu livro, ao recebê-lo por correio. abraço.
Fico feliz em saber,
será um prazer autografar.
Caramba... essa me pegou de jeito... também fico imaginando aqui, poeta, o que brota, o que apodrece, o que se torna "infértil" e o que se torna receio... acho que tudo sempre muda de lugar!
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