domingo, maio 20, 2007

Registro histórico, nosso amigo Paulo Cezar Lemos visitou no Hospital São Francisco de Assis Crato-CE alguns meses antes da sua morte uma das principais figuras da poesia oral popular nordestina do século XX.
Antônio Gonçalves da Silva - Patativa do Assaré. Sua obra de dimensão tanto estética como política, aborda diferentes temas e possui outras vertentes: telúrica, religiosa, filosófica, lírica, humoristica/irônica. Ele foi a voz do sertanejo nordestino, dos injustiçados, marginalizados e oprimidos. Cedo ficou cego de um olho e só aos doze anos frequentou por poucos meses a escola onde foi alfabetizado. A "poesia popular" foi muitas vezes relevada a certo número de representações negativas que a situam no lado da literatura menor. Entretanto RIMBAUD confessa seu interesse pela arte popular: "Eu amava as pinturas idiotas, estofos sobre portais, cenários, lonas de saltimbancos, tabuletas, estanpas coloridas populares; a literatura fora de moda, latim de igreja, livros eróticos sem ortografia, romances de nossas avós, contos de fadas, livrinhos infantís, óperas velhas, estribilhos piegas, ritimos ingênuos."


Vaca Estrela e Boi Fubá

Seu doutor me dê licença pra minha história contar.
Hoje eu tô na terra estranha, é bem triste o meu penar
Mas já fui muito feliz vivendo no meu lugar.
Eu tinha cavalo bom e gostava de campear.
E todo dia aboiava na porteira do curral.

Ê ê ê ê la a a a a ê ê ê ê Vaca Estrela,
ô ô ô ô Boi Fubá.

Eu sou filho do Nordeste , não nego meu naturá
Mas uma seca medonha me tangeu de lá pra cá

Lá eu tinha o meu gadinho, num é bom nem imaginar,

Minha linda Vaca Estrela e o meu belo Boi Fubá
Quando era de tardezinha eu começava a aboiar

Ê ê ê ê la a a a a ê ê ê ê Vaca Estrela,
ô ô ô ô Boi Fubá.

Aquela seca medonha fez tudo se atrapalhar,
Não nasceu capim no campo para o gado sustentar
O sertão esturricou, fez os açude secar
Morreu minha Vaca Estrela, já acabou meu Boi Fubá

Perdi tudo quanto tinha, nunca mais pude aboiar

Ê ê ê ê la a a a a ê ê ê ê Vaca Estrela,
ô ô ô ô Boi Fubá.

Hoje nas terra do sul, longe do torrão natá
Quando eu vejo em minha frente uma boiada passar,
As água corre dos olho, começo logo a chorá

Lembro a minha Vaca Estrela e o meu lindo Boi Fubá

Com saudade do Nordeste, dá vontade de aboiar

Ê ê ê ê la a a a a ê ê ê ê Vaca Estrela,
ô ô ô ô Boi Fubá.

Patativa Do Assaré


Nenhum comentário: