domingo, maio 20, 2007



Nelson M. Filho - As Noites de Rotieh I - Mista sobre tela - 1999



BALA PERDIDA

“...eu sou Nada ,e é isso que me convém
eu sou a execução,a perfuração...” Lobão

Solene
a mandíbula esnobe
desce e sobe
mastigando alhos
para desvelar agruras
terrificantes
vindas de onde
de longe
das alturas
das vielas
das capelas
das panelas destampadas
de argila
cozidas
das faces rubras
das donzelas
carregadas de aflições
pedregosas...
Meus resquícios
de goela
suspiram pólvora
à espera do estalo
da faísca imprecisa...

Luciano Fraga




Um comentário:

Anônimo disse...

as balas perdidas achan-se em todos lugares e imprecisa são precisas, e quando um poeta como luciano fraga rasga o ar com versos de polvoras, não são faiscas a iluminarem o espaço, mas cores que nos incomodam e nos acordam, cores que ouvimos e nos advertem, são cores a brindar nossas covardias e sem ironia nos perguntar:
até quando?
Luciano, vc como sempre denso e profundo, sua poesia é um corte que sangra sentidos, sua poesia não aceita surdez.