sábado, dezembro 22, 2012




SUZI

O amor arrancou todos os meus dentes,
arrancou meus olhos...
Agora,
amo cegamente, com uma boca banguela
e o meu sorriso magro
anda sempre a espera do que matou...
Amor,
este cigarro apagado
entre os dedos manchados
soprando rajadas de dor;
mas o amor não toca blues...
A propósito,
o amor fareja, penetra,
esvai,
se não me engano, se esconde
por trás de um piano
que ninguém toca mais,
aliás, o amor  
é meu brinquedo importado,
cavalo de motor acelerado
com a rédea sobre meus pés.
O amor,
é essa dieta sagrada
que uma vez por mês 
tem suas flores regadas
com minha carne vegetariana;
que sangra...
Amor,
escuridão decantada ,
maldição de cigana,
um olho no cravo, outro na fechadura,
se faz de gato ou sapato,
pra ele tanto faz:
os cílios postiços, a bolsa de valores,
as tetas artificiais,
quem ama de verdade?
nunca o satisfaz,
pois quando o amor anuncia de véspera
o leite derramado,
é sempre tarde demais
e o conforto é contra o verso.

Luciano Fraga

2 comentários:

Zana Sampaio disse...

"...pois quando o amor anuncia de véspera
o leite derramado,
é sempre tarde demais..." bem dito!

Luciano Fraga disse...

Zana,talvez eu dissesse: bendito.