sexta-feira, janeiro 11, 2008

Reflexões sobre pintura

De agora em diante, sempre que for solicitado a afirmar minha “profissão”, responderei que sou PINTOR.

Nem Artista Plástico, nem (de acordo com a terminologia atual) Artista Visual. Acho irônico que, em meio ao “pós-pós-pós(...)-modernismo”, onde tudo é estetizado e/ou estetizável, onde os pensadores apontam a morte da Arte(vide Baudrillard), surjam tantos “artistas”. É só ligar o aparelho de televisão comprovar.
Mas, que interesse para o “público” pode haver em deter-se a olhar pinturas quando, a sua volta, um infinito número de imagens mais vibrantes e atrativas se faz presente de forma muito mais dinâmica? Que validade a linguagem da pintura pode ter nesse cenário?
Confuso entre caminhos, tão barroco como pós-moderno, sem reconhecer sentido tanto para a pintura como para toda Arte, flertei com a possibilidade de abandonar os pincéis e as tintas. Tal alternativa não foi de todo descartada, mas talvez não seja executada de forma tão drástica. Abandonar a pintura? Decerto não conseguiria – ela faz parte de mim. Mas temo que tenha de abandonar a pretensão de querer fazer dela uma forma de subsistência.
A pintura não é hoje como foi para os modernistas, instrumento belicoso em prol da contestação ao conservadorismo, da criação de um novo mundo. Talvez a pintura, agora, seja refúgio para pintores e apreciadores da pintura. Lugar onde o tempo, novamente, possa ser tempo de magia; onde o olhar estabeleça relações significativas. Atitude de desaceleração, de concentração, de entrega, de um conhecimento diferenciado, mais irracional e, portanto, mais profundo, pois sua apreensão é direta.
Pintar é atitude pontual de resistência. É estar consciente do momento histórico, do fluxo que nos carrega e poder, com sua prática, manter certa autonomia. Pintar é, dentro do imenso aparelho de relações de produção e consumo de signos que é a atualidade, atividade onde o indivíduo pode se supor livre. Atualmente, tanto na Arte quanto na vida, “liberdade é jogar contra o aparelho. E isto é possível.” (Vilém Flusser).


Bala Perdida 1

serigrafia sobre lona plástica - 2007


Bala Perdida 2

serigrafia sobre lona plástica - 2007


Bala Perdida 3

serigrafia sobre lona plástica - 2007


Bala Perdida 4

serigrafia sobre lona plástica - 2007

Zé de Rocha

http://www.zederocha.blogspot.com/


BALA PERDIDA


“...eu sou Nada ,e é isso que me convém

eu sou a Execução,a Perfuração...” Lobão


Solene
a mandíbula esnobe
desce e sobe
mastigando alhos
para desvelar agruras
terrificantes
vindas de onde
de longe
das alturas
das vielas
das capelas
das panelas destampadas
de argila
cozidas
das faces rubras
das donzelas
carregadas de aflições
pedregosas...
Meus resquícios
de goela
suspiram pólvora
à espera do estalo
da faísca imprecisa...

Luciano Fraga



2 comentários:

anjobaldio disse...

Buenas, o blog da Carla Granja é:
http://paixoeseencantos.blogs.sapo.pt/

anjobaldio disse...

Buenas, as TATURANAS estão soltas no anjo.