domingo, dezembro 23, 2007

PAPEL DE SEDA



Bata-me forte
nas cordas
do coração
até que lacrimeje...
Você adora vencer
na minha ausência,
quando
Sinéad’ O Connor
basta
com sua alma
e cabeça raspada:
“ I remember I love you”
digo entre dentes
e uivo ruidosamente
para voltar sorridente
nesta inconstância
de lata
lixo
jogado na praça
não tem preço,
meu zoológico
possui um cronômetro
que pirraça
os bichos
com seu tempo
de traça
destruindo meus livros
no instante que mais
preciso...
Ler é preciso
mesmo perdendo
o juízo
mesmo perdendo
o vestido,
o sentido,
o censo de irreal,
mesmo
perdendo e perdendo...
Normal é ter:
um norte,
um nome,
uma sorte que ampare
o seu caminhar lógico
óbvio
quero ver tua coragem
para adentrar
num sonho
de estanho
sem querer acordar...
Compreendes o que digo?
Meu estandarte
é feito de papel
tingido
com guache
vermelho
igual ao tecido
da roupa do papai
Noel,
em noite de chuva...



Luciano Fraga



Um comentário:

anjobaldio disse...

Puta-madre! Que belo poema, hein?