quinta-feira, junho 12, 2008

Batendo na porta errada

(pequenas considerações a respeito da razão)




Cara, hoje amanheci teimoso, com um prenúncio de quem espera o inusitado; o nascimento de um poema romântico. Isso aí, poesia delicada, cheia de palavrinhas de amor. Pra mim que não sou dado às estas paradas, logo pensei que havia algo errado. Imaginei um poema branco, alinhado, feito os dentes em piscinas de fundo azul, ou lençóis alvos, como em comerciais de detergentes na TV. Queria uma melodia num ritmo qualquer, que fizesse meu coração sorrir. Foi impossível , devo confessar, pois não passo sem a dor de um blues e sem Astor Piazzolla quem me faz chorar... Mas, isto só não basta, nem é assim que meu coração bate como um cão que já não late, não consegue sair dessa cela onde o ar fede e me falta,sou descartado feito boneca, mamando em seios de plástico...
Enjaulado no elemento terra, nunca usei roupas de marca, ou gravatas para entrar em festas, tudo bem!Pode me chamar de anárquico. O problema é que você me fuça do cabelo à ponta das patas, achando meus poemas brutos, dizendo que meus versos são feitos prá ralé, me julgue como quiser, apenas cansei de suas bravatas. Você só entende de filme pornô e escuta música em karaokê, acredita que o mundo vai alvejar, comprando aquele sabão em pó. Sinto até vontade de sorrir, claro, do jeito que o mundo está; espera que o domingo venha aí, tem bunda mexendo na TV; feijoada para gente dormir e culto para te consolar. Mas, como um desordeiro teimoso, não consigo parar de escrever, versos com o dedo em riste, poesias com rimas tristes, linhas famintas e sujas. Não consigo parar de ler a verve felina do “Boca do Inferno”, a angústia de Silvia Plath. Não posso deixar de ouvir o som traumático do rock’ in rool. Daí, sinto-me estranho dizer que você não deve esperar nada romântico deste cara que não tem outro jeito de ser. Tenho ou não tenha razão...




Luciano Fraga

5 comentários:

Anônimo disse...

Não sei se estou batendo na porta certa ao tentar comentar um texto forte daquele que não faz “poesia delicada, cheia de palavrinhas de amor”. Prefiro apenas o silencio, porque não se resume uma filosofia como não resume um poema em breves linhas....... Mas uma vez um grande texto..
Abraços!.

Luciano Fraga disse...

Heraldo,isso aí,às vezes o silêncio fala bem mais alto que certas palavras,abraço.

Ruela disse...

sempre bom vir aqui ler tamanho talento.




abraço.

Luciano Fraga disse...

Ruela,valeu,muito obrigado,abração.

Anônimo disse...

luciano venho tentando postar o comentário e só agora obtive exito.
o texto é um daqueles textos que a realidade exige que seja escrito e você o escreveu e de uma forma pra não deixar duvidas acerca de nada ali tratado. nossos tempos o tempo todo vai matando o inumano da gente e é justamente esse inumano que nos mantém humanos.
luciano texto preciso e delicioso de ser lido.
abraços